Santa Cruz, 6 de maio de 1872
Meu caro irmão (irmão na fé, i.é colega pastor) Hunsche!
Antes de mais nada, nossos votos de felicidades para o vosso pequeno príncipe e a bênção de Deus com ele. Alegramo-nos que agora vocês também podem experimentar a alegria de ser pais e que o Senhor faz tudo bem.
A tua querida carta eu recebi estes dias e procuro respondê-la nestas tranqüilas horas da noite.
Cheio de gratidão ao doador de todas as boas dádivas, verdadeiramente, posso dizer-te que o Senhor faz tudo bem, Ele deixa afundar (Mateus 14,30-31), mas não afogar! Com o coração receoso eu assumi o meu trabalho aqui, temendo, como me foi profetizado, de me expor ao açoite, - mas louvado seja Deus que Ele até aqui só teve pensamentos de paz para comigo. Eu poderia te transmitir tantas coisas de que forma maravilhosa a diretoria sinodal aqui procede com as comunidades, como ela, a seu tempo, encarou uma tentativa de desconfiança da comunidade sobre mim, - para que serve isso? Tudo é passageiro, o Senhor Jesus certamente o viu, ouviu e perdoou. Com uma palavra, graças a Deus, nós aparentemente estamos bem e desejamos que o acordo recíproco nesta comunidade possa vingar. Trabalho aqui há suficiente, assim que embora eu agora só tenha que pregar num lugar (pela decisão de 1º de março), não posso me queixar de tédio. No cumprimento da incumbência da diretoria sinodal, iniciei no dia 1º de fevereiro com 15 crianças a escola, o que o Senhor abençoou de forma tal que as pessoas adquiriram confiança em mim, assim que agora com a ajuda de Deus, sem grande esforço, posso ministrar todos os dias aulas para 53 crianças em 5 classes. Pelo fato de eu lecionar, os 4 professores locais de certo não me serão favoráveis,- mas eu não posso fazer nada por isso; até os jesuítas que lecionam, graciosamente, perderam muitos alunos que agora freqüentam a minha escola e pagam com gosto um mil réis por mês. Eu só tenho livre o domingo e nem sempre este, quando o povo me traz os seus doentes. Ontem e anteontem administrei medicamentos para pelo menos 25 doentes, em parte da homeopatia e em parte da alopatia. No primeiro mês eu enviei todos os doentes ao Dr. Wolfenbüttel e Richter, - mas quando eu ouvi como as pessoas foram tratadas, passei a dar remédios para elas. Dr. Wolfenbüttel cobra por uma consulta de meia hora (as pessoas geralmente levam um cavalo encilhado), via de regra, 2 onças, - e de uma hora 100 mil réis; 12 pequenas bagas de purgante por 8 mil réis,- e daí as pessoas não devem ficar pobres? E agora o dito Dr. pede para a minha comunidade comprometer-se de lhe pagar, anualmente, um salário de 2 contos, porque as pessoas não o podem, ele jurou tirar-lhes o couro. Como o tal Dr. bebe muito e não tem mais pacientes planeja transferir-se até outubro. Segundo as aparências eu sou um lesa-paz, do que Deus me guarde. Finalmente eu ainda tenho problemas com um terceiro senhor, a saber com o irmão S., do qual, porém, não vou criar cabelos brancos. Eu o conheço de Barmen e o visitei há 2 anos atrás e até éramos bons amigos. Antes de vir para cá, eu lhe escrevi de São Leopoldo uma carta detalhada, a qual, o comerciante N. foi portador, e a qual ele recebeu do mesmo senhor juntamente com uma carta do irmão Weyel. Há mais ou menos 4 ou 5 semanas vem um aluno da escola e me traz uma longa carta do irmão S. À minha pergunta “onde está o Pastor S.” o jovem responde “conosco”. Eu leio a carta, com tratamento de “ilustrissimo”, “Vossa Reverendíssima” e “senhor”! O senhor me solicita respeitar os limites para não entrar em demanda com ele; isso implica que eu não devo confirmar as crianças de Costa da Serra já que pertencem à sua comunidade, etc. Eu me informei com a minha diretoria, bem como a de Costa da Serra, - e recebi como resposta: “esta comunidade tem o legitimo direito de confirmar as suas crianças onde achar melhor e o Pastor S. não tem nenhuma prescrição a fazer.” Com esta instrução eu confirmei 3 e batizei 5 crianças aqui na igreja. Depois disso vieram (e estiveram também ontem aí de novo) os membros da diretoria de Vila Tereza (atual Vera Cruz – RS) e me pediram se eu não poderia comprometer-me de, todos os meses, no domingo a tarde pregar-lhes, já que o Pastor S. não o queria fazer, - e se eu não o fizesse, eles teriam que contratar novamente o Wolfram que mora em sua comunidade, etc. Ao informar-me sobre as razões pelas quais o Pastor S. não o queria fazer, mostraram-me uma carta do Pastor S. que confirmou as suas palavras e eu me despedi deles dizendo: “eu não posso dar-lhes uma resposta hoje, voltem mais tarde que eu quero conversar com o Pastor S.” Em vista disso eu me sentei e escrevi uma carta fraternal dizendo que nós causamos escândalo aos Jesuítas, se tão próximos não o experimentássemos como ele o fez, como ele não respondeu a minha carta, - eu temo que nós pregamos às almas a nós confiadas e nós mesmos somos condenados e, finalmente, “Você se prejudica a si mesmo quando as pessoas dizem “Pastor S. não se dá com nenhum outro Pastor, assim com Bergfried agora com Falk” Esta carta serviu para colocar lenha na fogueira.Três dias depois eu recebi uma carta, em que só faltava (constar): “Pio IX, o infalível”. Se tu, meu caro, fosses ler esta carta, certamente, que o teu coração seria tomado pela dor ao ouvir como ele amaldiçoa o irmão Bergfried até os quintos do inferno e não lhe deseja um fim bem-aventurado, até que ele se humilhe e rogue por perdão ao dito senhor. Um trecho literal: “O senhor escreve, eu não teria tido paz com o Pastor B.. Se o senhor conhecesse a situação que levou ao desentendimento entre nós, então, o senhor, Deus e todas as pessoas de bem me dariam razão. Bergfried responderá por sua injustiça, por seu coração intransigente, nem que seja no seu leito de morte. Para mim é indiferente, prefiro sucumbir com prejuízo da honra que prevalecer com uma chaga na consciência. Para que o senhor não chegue a infeliz idéia do lastimável Bergfried que passa agora a experimentar os frutos do seu pecado, - eu lhe aconselho a se calar. Se Deus não lhe der a suficiente sabedoria, o senhor se tornará ridículo. Mas se o senhor, finalmente, tomar juízo, então, eu me alegraria e pediria a Deus para dar a sua bênção para uma atuação compatível!”Cartas semelhantes eu li no Jornal de Colônia, em que um certo bispo também promete pedir a Deus e agradecer, se um certo Dr.N. voltar para a santa igreja mãe.
À minha pergunta sobre Vila Tereza ele não me deu nenhuma resposta, além de “o senhor pode ficar tranqüilo quanto à Vila Tereza”, - não me resta outra alternativa a não ser escrever ao Pastor Kl. e perguntar se ele concorda em que as pessoas aqui contratem o Wolfram.
Ao tal senhor eu queria escrever novamente uma carta que tivesse chifres e dentes, mas eu refleti que seria melhor ficar quieto e deixá-lo agora no seu altivo espírito farisaico, pois, o Senhor Jesus já o encontrará.
No entanto, eu magoei mais uma vez o pobre senhor. Numa bela noite me buscaram para dar a Santa Ceia para uma senhora moribunda que mora a meia hora de minha casa, mas que pertence à comunidade do Pastor S.. Estando junto à moribunda eu disse que me teria sido mais agradável se eles tivessem buscado o Pastor S., já que ela pertencia à sua comunidade. Ao que me disse a pobre senhora, acamada há 10 anos, com a mais profunda tristeza: “Sim, senhor Pastor, se o senhor não me der a Santa Ceia, então, a minha filha terá que fazê-lo, e eu creio que Deus o Senhor o contemplará, porque a necessidade nos leva a isto e porque nenhum pastor me quer alcançá-la”. À minha pergunta: “A senhora já o solicitou a seu Pastor S.”, ela respondeu: “Sim, já diversas vezes, - mas ele disse que não viria porque o meu marido teria brigado com ele por causa de nossa filha”. O que é que eu poderia fazer? Em nome de Deus eu ousei dar-lhe a Santa Ceia e, no dia seguinte, comuniquei-o oficial e amistosamente ao Pastor S. , ao que recebi uma carta agressiva. Agora eu não me importo mais pelas suas cartas agressivas e sigo o meu caminho. O dito senhor não me pode fazer nenhum mal, pois desde Bergfried, está muito mal conceituado aqui, por causa de suas mentiras e sem-vergonhices. A minha gente aqui está, especialmente, zangada com ele, pelo fato de que ele, sob o encargo do Sínodo, ter pregado aqui no segundo dia de Natal e ter cobrado por isso 1 onça (32$000), já que ele tinha que batizar 11 crianças,- portanto 54$000 para uma viagem de 4 horas. Naquela viagem ele disse à diretoria daqui que “ele nunca me perdoaria, que nunca mais seria meu amigo, porque eu não o convidei para o meu casamento”, - fato que levou a diretoria a rir-se dele.
Na sua última visita ao Faxinal, por minha incumbência, a diretoria solicitou-lhe, verbalmente, de não proceder comigo como com o meu antecessor, mas de dirigir-se à diretoria, o que o magoou profundamente.
Assim, meu caro, transcorrem as novidades aqui. Se o Senhor, nosso Deus, doravante nos der saúde e alegria, então, cremos nos ajeitar aqui, conquanto também esta comunidade não se constituir de anjos como as anteriores, fato este que nos mantenha numa postura humilde.
O Pastor Klein que servia em Santa Maria da Boca do Monte mora aqui há 2 meses, sofre de câncer de nariz e ainda por cima há 14 dias caiu, esmigalhando o osso do nariz, de tal forma que os vermes o consomem. Nenhuma pessoa gosta de ir à sua casa, por causa do fedor, - eu estive lá esse dias, vi o nariz numa situação miserável, fiz o possível, não creio que haja esperança para ele, pois, os vermes já chegaram ao cérebro. Há poucos dias eu lhe dei a Santa Ceia e, dois dias após, sepultei-o. Eu creio por Deus que ele partiu bem-aventurado no Salvador, pois, nos últimos dias confessou-se arrependido pela sua vida passada e morreu com as palavras: “Senhor Jesus, por ti eu vivo, por ti eu sofro, por ti eu moro, etc.”
Finalmente, eu devo encerrar, todavia ainda quero comunicar-te que o Bartolomeu mora a 10 minutos de minha casa, aparenta ter dinheiro para o jogo e para galanteios, - mas cuja mulher parece passar por dificuldades, já que me paga em parcelas a anuidade escolar de seu filho,-
porém, no mais se porta grandiosamente. Que eu saiba não devo ter te causado nenhum dissabor ou cousa semelhante, - por isso, Deus te guarde.
Saudações cordiais de
teu
E. Falk
Número
CARTA # 01
Local
Petrópolis
Santo Ângelo
Santo Ângelo
Santo Ângelo
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Santa Cruz
Santa Cruz
Santa Cruz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Vila Teresa
Conventos
Conventos
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Dois Irmãos
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Feliz
Feliz
Feliz
São Leopoldo
Santa Cruz
Santa Cruz
Santa Cruz
Conventos
Conventos
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Data
04/01/1871
02/03/1871
28/03/1871
25/06/1871
29/08/1871
07/07/1874
09/10/1875
07/05/1877
10/09/1877
16/06/1878
20/07/1880
06/06/1881
06/08/1881
12/08/1881
28/01/1885
05/12/1886
25/01/1891
10/09/1891
25/09/1892
24/08/1894
23/09/1894
06/01/1895
04/08/1895
01/12/1895
28/11/1896
08/08/1897
18/01/1898
26/12/1898
07/05/1899
08/07/1900
05/05/1901
10/11/1906
10/10/1871
06/05/1872
21/03/1875
21/06/1896
10/10/1898
28/12/1898
11/01/1903
27/06/1903
13/11/1903
25/02/1906
27/05/1906
15/07/1906
19/07/1906
14/11/1912
10/07/1917
Remetente
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna e Eduard F.
Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Heinrich Eduard F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
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Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Johanna F.F
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Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
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Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Destinatário
Irmã Marie
Pais
Cunhada Tereza
Sobrinha Emma
Irmão Fritz
Irmão Fritz
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Pastor Hunsche
Madame Abel
Frederico
Futura Nora
Neto Rudi
Frederico