CARTA # 14

Ferraz, 12 de agosto de 1881

Meu pobre cunhado sofredor.

Incríveis, tenebrosos e misteriosos são os modos do Senhor lidar conosco, pobres mortais. Estamos na encruzilhada da vida e perguntamos: Querido Senhor, por que, qual é a razão de guiar-me por esta escuridão e permitir que eu esteja presente à partida da alma de minha adorada Theresa? E apesar de todas as perguntas só se recebe uma resposta, a qual, foi recebida pelo apóstolo Pedro: “O que eu faço agora tu não compreendes, mas um dia compreenderás”. E tu, querido cunhado, com o passar do tempo, vais descobrir porque o Senhor levou tua querida esposa , mãe dos teus filhos, tão prematuramente.

Com tudo isto devemos recordar-nos sempre que o que bom Deus nos manda, é para o nosso bem. É muito difícil oferecer consolo a uma pessoa que sofreu tal tragédia, porque os seres humanos não tem as palavras que confortam o coração aflito do marido em luto: mas o Senhor, o qual é o único Mestre, tem o poder de oferecer consolo. Ele vai ajudar-te e dar-te as palavras consoladoras e vais sentir-te desejoso de cantar: o Senhor é fiel.

A noticia inesperada da repentina morte de tua esposa nos deixou em choque e ficamos desamparados, admirando as fotos da querida e dizendo: “Como é possível”.

Ah, quantas vezes estou parado ao lado de uma sepultura como pastor, oferecendo consolo ao marido e aos filhos em lágrimas e, ao mesmo tempo, reconhecendo a graça de Deus por haver poupado minha familia desta perda.

Deveras, como pastor a gente aprende o verdadeiro sentido da vida. Göthe tinha toda razão quando disse: “Aquele que nunca comeu seu pão em lágrimas e nunca chorou, desesperadamente, sentado em sua cama, aquele não conhece o poder divino”. Somente durante os tempos de pior agonia sentimos a proximidade do seu poder e repetimos com Davi: Durante toda a noite se lamentavam, mas nós podemos acrescentar em nossa fé, ao amanhecer houve regozijo. Um bom cristão não se deixa roubar em sua fé, mas se agarra, como uma criança, à certeza de que Deus é constante e sabemos que depois de muito lamentar, uma felicidade inexplicável vai aparecer. “Eu não te disse”, consola o Redentor à Marta sofredora, “se tens fé verás as maravilhas do Senhor”. Oh, querido cunhado, como celebraremos a reunião com os nossos queridos falecidos, quando nos juntarmos a eles e nos contarão das maravilhas que testemunharam, enquanto nós sofríamos a sua perda.

Oh, que dia será este em que a morte devolve os mortos e as sepulturas libertam os falecidos e toda a humanidade está em frente ao trono do Senhor. Este dia maravilhoso já nos foi descrito por Davi quando disse: “Quando o Senhor libertar aos prisioneiros de Sião, então nossas bocas estarão cheias de sorrisos e nossas línguas cheias de louvor, então diremos com toda sinceridade que o Senhor nos trouxe felicidade imensa”.

Esperamos que esta felicidade e glória eterna estejam no teu futuro, apesar de agora não poderes vê-las devido às lágrimas, pois, os que semeiam com lágrimas colhem felicidade. Que o bom Deus te conforte a ti e aos filhos

são os desejos sinceros de teu cunhado sofredor,

Eduard Falk.