CARTA # 13

Ferraz, 6 de agosto de 1881

Querido irmão Fritz !

Há 8 dias recebi carta de Marie e não estava esperando más noticias . O choque foi horrível e fiquei deprimida com o peso da tragédia, ao ler já nas primeiras linhas, que perdeste a tua amada Theresa. Meu querido, amado irmão sofredor. Como sinto tua tragédia. Vocês dois tinham uma vida tão feliz e de repente ela foi arrancada de teu lado. Não posso imaginar a extensão de tua dor, mas a compartilho contigo e com as crianças sem mãe; como a pequena Emma deve estar triste. Só posso imaginar a felicidade de Theresa ao dar à luz um menino e então ter de deixá-lo em tão pouco tempo! Como está o nenê? Ele está bem cuidado e crescendo normalmente? Se morássemos mais perto, eu criaria teu filho para ti. Quando se perde uma fortuna se pode recuperá-la novamente com trabalho e perseverança, mas quando a morte nos rouba não se pode recuperar, só o bom Deus se beneficia com nossa perda. Um dia, sim, um dia, vamos rever-nos todos e espero que esta promessa te dê forças e conforto e que não prestes atenção aos “iluminados” que pregam a finitude da morte. Eu tanto gostaria de confortar-te, se eu tivesse as palavras te diria que as decisões do Senhor são sempre decisões sábias e que sentimos o seu amor no meio de nosso sofrimento. Mas que decisão horrível, o nosso coração não pode e não quer compreender a tragédia. Diz-se que é amor divino quando o que tínhamos de mais precioso nos é levado. A impressão é de que o Senhor está tratando nossos sentimentos com muita severidade, mas somente o Senhor tem o poder de consolar-nos, e sua graça abre nossos corações para compreender o quanto nos ama. Um dia, repito, um dia, nós vamos ver-nos outra vez e estaremos preparados para receber o seu poder curador. Tu conheces este lindo hino ”Nos veremos outra vez, rodeados de esplendor, onde a dor não existe, na presença de Jesus nos veremos outra vez”? Sim, tenho certeza que nos veremos outra vez, na terra abençoada, e cantaremos nosso hino, depois de perigos e batalhas, sim “nos veremos outra vez”.

Eu gostaria de saber mais detalhes do que ocorreu, como aconteceu que Theresa teve de deixar-nos e quanto amava a criança. Ela sempre mencionava sua adorada Emma com tanto carinho e também seu amor por ti, o quanto estava apegada a ti e como foi difícil para ela deixar-vos todos. Ela esteve consciente até o fim? Gostaria tanto de estar aí contigo e para ti. Eu chorei todo o dia e também meu querido esposo esteve muito perturbado, ele até pegou a foto dela da parede e comentou que era impossível crer que alguém tão jovem nos tivesse deixado. Por favor, escreve-me tudo.

A carta de Marie foi de junho, ela bem que podia ter escrito antes. Theresa nunca chegou a ler minha última carta, pois ela faleceu dia 2 de março. Em sua carta ela tinha mencionado que escreveria assim que o seu filho tivesse nascido. Como é diminuta nossa capacidade de planejar e dirigir nossas vidas. Luisa está contigo? Ela é muito jovem para saber lidar com os afazeres domésticos, mas é melhor ter alguém em casa que se conhece e em quem se pode confiar; ela em casa só tem os irmãos. Também os Böhms estão de luto, eles perderam uma criança; nós fomos abençoados com nossos filhos.

Como o nosso pai tem sido abençoado em poder viver além dos 73 anos e com boa saúde. Ele veio te visitar? Que o bom Deus te dê conforto, porque nós não sabemos como confortar. Levanta o teu olhar para o alto, de onde vem o conforto.

Tua amada irmã

Johanna.