CARTA # 26

Conventos, 8 de agosto de 1897

Minha querida Emma!

Muito obrigada por tua querida carta, foi um prazer ter notícias tuas outra vez e sentimos muito que o teu pai não está bem e temos esperanças que com a primavera ele vá recuperar-se. Exige muita paciência de nossos irmãos, com tanta saúde, sofrer tanto com os pés. Vocês ainda não experimentaram o sistema de águas de Kneipp ou Kuhne? Aqui se usa muito, com excelentes resultados e vocês lá, com tantos banhos termais, não teriam problema de achar um bom. Aqui há só um banho termal sob os cuidados de um médico e muito caro, assim que a maioria o faz mesmo em casa, com a ajuda de livros.

Eu também te agradeço pelas lindas flores e estou antecipando a foto de Gern, a qual, deve ter mudado muito nestes últimos anos. Como funciona o castelo, há uma família nobre em residência? Quanto às nossas fotos, ainda não temos, pois, os fotógrafos não vieram. Quando visitamos o Orfanato e Asilo Pella havia um fotógrafo oficial que estava fotografando o edifício novo e os visitantes importantes. Assim Helena e Frieda e também nós fomos fotografados, mas não saiu bem, pois, ele não tinha o equipamento adequado. Helena vai voltar para casa em breve. Ela foi visitar amigas depois de terminar de lecionar, tendo ido à Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Sapiranga ou Leopoldhof onde o nosso Hans trabalha como comerciante. Lá ela tem muitas amigas e também vai ficar para o batismo da filhinha do pastor, representando-nos, e depois, Hans a acompanhará até aqui. Maria já está no internato em Novo Hamburgo há umas quatro semanas. Eu tive de acompanhá-la, pois, meu marido não podia sair devido a muita doença entre os membros da igreja. Fez muito frio na viagem e tivemos geada muitas manhãs; eu fiquei contente quando pude voltar à minha casa. Eu aproveitei para visitar Helena e andei mais duas horas desde Novo Hamburgo. Hans veio me buscar e trouxe outros cavalos, mas mesmo assim levou mais três horas, porque as estradas estão muito ruins no inverno. No Internato de Maria agora há 50 moças e não há mais vaga. Eles tem três professoras da Alemanha, mas já pediram mais duas, porque uma noivou com um dentista assim que chegou. Ele nunca pode achar noiva até elas chegarem. Elas só tem 20 anos e ainda estão aguardando uma professora de música, pois, aprendem violino, piano e cítara. Tu certamente tens um piano?

Em maio fomos à inauguração do orfanato e asilo e como a data coincidia com um congresso do sínodo, nós te mandamos toda a informação. Recebeste tudo? Quando eu fui também levei a Frieda, pois, tive de ir uns dias antes, porque prometi que ajudaria e logo me fizeram supervisora e havia muito que fazer.

Tivemos de preparar comida para todas estas pessoas por uma semana e nos dias especiais eu tomei conta da cozinha, pois, não havia cozinheira de confiança. Havia 23 pastores e muitos convidados, pois, cada pastor trouxe diversos membros de sua comunidade e todos os dias eles queriam sobremesa. Helena ajudou bastante com isto e fez muitos bolinhos com molho de vinho, também pãezinhos, pois, não havia espaço para fazer pudim. No Brasil a gente se mexe e faz tudo mesmo, como carnear os bois e porcos, fizemos linguiça e assamos na grelha, todos os dias fizemos pão fresco e bolos, também para os órfãos. Duas vezes fizemos “spätzle” e salada verde. Eu escrevi tudo isto para dar-te uma idéia de como ainda estamos apegados às tradições alemãs. Não faltou cerveja e vinho de qualidade e tudo foi doado. Quando a nossa igreja estiver terminada a festança vai ter lugar aqui. Agora estamos com três carpinteiros trabalhando no santuário e esperamos ter a inauguração em novembro e vocês todos estão convidados.

Quanto ao dinheiro, eu já escrevi ao Fritz que ele mande seu endereço a vocês e indique a quantia e acerte, diretamente, com o teu pai. Nós estamos muito gratos a teu pai por sua generosidade. Fritz está num apuro e teve de emprestar 500 mil-réis de um amigo, pois, nós não podíamos ajudar. Ele continua com o salário de 100 mil-réis na farmácia e 35 no hospital onde ele está numa boa posição, com grande oportunidade para aprender e observar, mas depois de pagar seu quarto e comida, não sobra mais nada para outras coisas.

Há algum tempo uma moça chamada Gisela Huber, de Passau, esteve aqui visitando seu tio e pensei que poderias fazer o mesmo. Eu não cheguei a conhecê-la, mas ouvi falar dela, tu a conheces? Estou contente ao saber que vão ficar em Gern, pois, então não precisarás começar tudo de novo em outro lugar. E mesmo se eu não posso visitar-vos, talvez um dos nossos filhos, provavelmente Fritz, poderá fazê-lo, mas só depois de poupar por muito tempo. Hans também gostaria de ir como negociante, mas ele é muito jovem. Tu e a sobrinha Luise fizeram umas viagens interessantes, é uma pena que não visitaram a família do Dr. Böhm, eles as teriam recebido de braços abertos. Emma Böhm já visitou vocês? Talvez ela more longe. Estás por celebrar um lindo casamento, terá lugar em Gern? Aceita nossas felicitações. Muitas lembranças de Johanna, ela está sozinha aqui com Frieda e também Willi que ainda está na escola e foi confirmado na Páscoa. Quando Hel voltar te escreverá e à Luise. Enquanto isto, lembranças à Luise. Todos os primos lá deveriam mandar-nos os anúncios de noivado, pois, gostaríamos de vê-los. Estou incluindo uma foto da tia mais moça.

Que Deus te abençoe e beijos a teu pai de

tua querida tia

Johanna Falk.