Santo Ângelo, 25 de junho de 1871.
Querido irmão Fritz !
Tu deves estar pensando, “A Hanne arrumou um homem para si e agora não escreve mais”. Assim até parece porque eu não escrevi mais, pois, eu escrevia regularmente; nós nos correspondíamos o tempo todo. Não estou querendo apresentar desculpas, primeiro, porque eu, praticamente, não escrevi para ninguém, somente aos pais e porque não sei o que aconteceu que o tempo passou tão rápido.
Tu és o primeiro dos irmãos a quem escrevo do Brasil e eu espero e desejo que em breve eu também ouça algo de ti. Não espera demais para escrever, pois, demora muito para uma carta nos alcançar aqui e o endereço correto foi enviado aos pais. Eu acho que tu encontrarás tempo para escrever, como o “Sr. Cervejeiro” tu poderias fazê-lo num domingo de manhã. Entretanto é possível que tenhas aderido à vida de casado, desde então, e, neste caso, saúda a tua esposa de nossa parte, seja ela quem for, e eu peço a ela que cuide para que escrevas ao Brasil. Escreve bastante e me conta tudo de Gern, pois, até agora só recebi uma carta de Marie com pouquíssimas notícias.
Mas agora quero começar a te contar sobre mim, e o mais importante é que eu gosto daqui um bocado e nem noto que a distância que nos separa é tão grande. Sobre a minha viagem tu ouviste de Mamãe e Papai. Eu fui recebida em todos lugares com a maior gentileza e cheguei feliz neste paraíso terrestre. É lindo, lindo e florido com laranjeiras e palmeiras. As melhores frutas estão recém amadurecendo e a vista mais magnífica foi nossa chegada ao Rio de Janeiro; a cidade é como uma grande cidade europeia. Porto Alegre, meu último porto de chegada, também é uma cidade linda, com terraços ao longo de morros baixos e com uma grande população de alemães, com um jornal alemão que nos alcança até aqui, clubes alemães, abrigos alemães e cerveja alemã. Minha última viagem me levou Rio Jacuí acima, até a cidade de Rio Pardo, onde meu noivo, finalmente, se encontrou comigo. De lá tomamos uma carruagem, puxada por quatro cavalos, para Santa Cruz, uma pequena vila, ao Pastor Bergfried que iria oficiar o casamento.
Em 30 de janeiro o casamento foi celebrado, e não foi um ato modesto, tivemos muitos convidados importantes, e havia cerveja e vinho e até champanha, que nós mesmos tomamos no dia seguinte. A Igreja e a casa paroquial ricamente decoradas com flores e guirlandas, as pessoas se esforçavam para nos agradar, mas meus pensamentos sempre estavam com vocês em casa.
Após uma estada de quatro dias viajamos de Santa Cruz para nosso lugar, mas aí terminou a beleza da paisagem, pois entramos numa região inculta, uma espessa floresta, numa viagem que durou oito dias. Não é como viajar na Alemanha, onde há 11 ou mais hospedarias; nós tivemos que permanecer ao ar livre e levar nossa própria comida e bebida. Durante a primeira noite foi possível ficar com uma família alemã que vive no campo e que tem muitas árvores frutíferas, cria abelhas, tem uma plantação respeitável e tem prazer em receber hóspedes, hóspedes alemães, e não aceita pagamento; a hospitalidade é grande entre os alemães. O fazendeiro tem duas mulheres e muitas crianças. No dia seguinte partimos cedo e paramos ao meio dia perto da floresta, onde fizemos um fogo, penduramos um pote sobre ele e cozinhamos nossa refeição. Após descansar um pouco, continuamos a viagem e a noite acampamos ao ar livre; por sorte era lua cheia e tivemos menos medo de sermos assaltados. Os negros e os mulatos estão sempre a espreita de vítimas e muitos viajantes perderam suas vidas. Nós dormimos descansadamente na carruagem e o cocheiro dormiu em baixo dela, sobre seus alforjes, bem armado. Eu havia trazido uma arma de mão (Zandnadelrevolver) para meu marido, a qual é municiada com 6 balas ao mesmo tempo e se alguém nos houvesse surpreendido, teria recebido um belo presente ! Finalmente no terceiro dia, tarde da noite, chegamos a esta casa solitária na floresta.
Em qualquer direção que se olhe, se vê altas montanhas, cobertas com uma floresta densa; nós estamos num vale silencioso que está se tornando cada vez mais amigável a medida que construímos e aumentamos a plantação. Eduard cavalga muito e eu o acompanho, frequentemente, coisa que eu aprecio muito. Temos dois lindos cavalos. A Igreja é uma estrutura simples, pois, torres e coisas semelhantes são proibidas pelo governo, já que nossa religião é apenas tolerada. Ela se encontra ao lado da floresta e em frente dela está a nossa casa e atrás desta está a cozinha, o forno, o chiqueiro e o galinheiro. A casa ainda está em construção, isto é, as vigas e pilares foram levantados e assim estamos vivendo, temporariamente, na varanda da Igreja e, neste momento, estamos ambos sentados numa mesa na Igreja escrevendo, na mesa que serve de altar e púlpito. Em torno da construção se vê troncos de árvores queimados, uma vista muito deprimente e eu jurei reduzi-los a cinzas brevemente.
Nossos vizinhos mais próximos são pessoas agradáveis, distantes mais ou menos 10 minutos. Para o lado, entre a floresta e nossa casa, há um pedaço de terra desmatada previsto para ser o curral dos cavalos e da vaca, mas a cerca ainda não foi erguida, de modo que plantaram batatas e milho que agora secou, pois é inverno, enquanto que vocês tem verão. Os cavalos são mantidos no potreiro do vizinho e quando nós os necessitamos ou quando é hora de dar milho, nós só temos que chamar: “tom, tom, tom...” e eles vem trotando devagarzinho; não temos uma vaca ainda, mas os vizinhos nos mandam leite, porém, temos 7 porcos e galinhas e gansos. Carne de porco é a mais importante, carne de gado é barata, mas raramente se carneia, somente temos quando compramos dos brasileiros que moram no campo e que vivem da carne de boi, especialmente, carne seca que eles penduram para secar como se fosse roupa lavada. Eu não gosto dela, mas no calor do verão não se pode conservar carne. Amanhã vamos carnear um boi junto com o vizinho, custou 18 Thalers e nós pagamos 9 Th. E venderemos o couro que custa a mesma coisa. Eu vou defumar a carne, o que lhe dá um gosto melhor do que seca ao sol. A mulher do vizinho quer fazer lingüiça, que não será tão saborosa como as tuas “Braunschweiger” ou como elas são chamadas. Quando não temos nada mais, nós sempre podemos comer galinha, mas nós enjoamos após algum tempo e não são nutritivas. Mas pensa nesta grande notícia, as vezes eu estou tão rica que eu tenho até 20 garrafas de cerveja em reserva e o motivo pelo qual não o tenho seguido demais é que eu bebo tudo, e se foi, e é caro e o gosto não é tão bom como cerveja alemã.
Meu querido marido ensina na escola três vezes por semana e há sempre muita animação e é admirável como as crianças ficam a vontade com os cavalos, todos vem para a escola a cavalo, às vezes duas ou três num cavalo, galopando, deleitando-se em vir à escola, e é fácil lidar com elas.....(trecho ilegível – alguma coisa sobre os pais que gostam de discutir com seu pastor ). Eu tenho que rir da maneira com que falam de nós, eles sempre dizem : “ele e ela”, ou “ela e ele”, mas nunca usam nossos nomes. Eu me lembro agora de uma canção que tu costumavas cantar e eu tenho que ensiná-la ao teu cunhado Eduard, quando tu cantas para nós : “Sie und Er, Er und Sie”. Mas estes são pequenos detalhes que não me incomodariam se não fizessem o trabalho de meu marido tão difícil, minha esperança é uma transferência, afim de que possamos viver entre pessoas civilizadas.
Fora disto, vivemos felizes e nunca falta trabalho, especialmente, porque um solteiro viveu aqui por tanto tempo. “Kommt Zeit, kommt Rat”. Com o tempo teremos uma solução. Andar a cavalo também te agradaria, através de uma espessa floresta onde mal há espaço para um cavaleiro e seu cavalo, por sobre morros tão íngremes que se pensa que o cavalo vai cair para trás, mas eles são firmes sobre suas patas, mesmo quando não ferrados, através de riachos e rios. O papel mais importante na floresta pertence aos macacos. Eles trepam de árvore em árvore e gritam e uivam, de modo que se fica quase surdo com o barulho. Eduard caça bastante e temos muitos veados que são bastante corajosos chegando perto da casa e que estão comendo nosso milho e também os papagaios incomodam bastante. Diz ao querido Paul que tínhamos um papagaio querido, seu nome era Peter e sabia falar tão bem e que nos deu muito prazer, mas agora está morto.
Eu ainda queria escrever para Bertha, mas é tarde da noite e amanhã cedo um cocheiro em que confiamos cavalgará para Cachoeira e levará nossa correspondência. Eu escreverei mais na próxima vez. Saúda-a de minha parte e saúda os queridos pais e compartilha a carta, pois, não tenho tempo para escrever-lhes e nada de especial aconteceu. Como está a querida mãe? Continua de boa saúde? Na noite passada visitei-a em meu sonho e ela ralhou comigo e eu chorei tão alto que meu marido precisou acordar-me e eu estava realmente chorando. O retrato que vês é do nosso imperador, estas são figuras grátis.
Meu querido marido te manda suas melhores saudações. Adeus e aguardo ansiosamente uma carta. Lembranças às crianças, Jakob e todos amigos.
Tua irmã querida Johanna
Número
CARTA # 01
Local
Petrópolis
Santo Ângelo
Santo Ângelo
Santo Ângelo
Santo Ângelo
Santa Cruz
Santa Cruz
Santa Cruz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Ferraz
Vila Teresa
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Conventos
Dois Irmãos
Conventos
Feliz
Feliz
Feliz
São Leopoldo
Santa Cruz
Santa Cruz
Santa Cruz
Conventos
Conventos
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Feliz
Data
04/01/1871
02/03/1871
28/03/1871
25/06/1871
29/08/1871
07/07/1874
09/10/1875
07/05/1877
10/09/1877
16/06/1878
20/07/1880
06/06/1881
06/08/1881
12/08/1881
28/01/1885
05/12/1886
25/01/1891
10/09/1891
25/09/1892
24/08/1894
23/09/1894
06/01/1895
04/08/1895
01/12/1895
28/11/1896
08/08/1897
18/01/1898
26/12/1898
07/05/1899
08/07/1900
05/05/1901
10/11/1906
10/10/1871
06/05/1872
21/03/1875
21/06/1896
10/10/1898
28/12/1898
11/01/1903
27/06/1903
13/11/1903
25/02/1906
27/05/1906
15/07/1906
19/07/1906
14/11/1912
10/07/1917
Remetente
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna e Eduard F.
Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Heinrich Eduard F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
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Johanna F.F
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Johanna F.F
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Johanna F.F
Johanna F.F
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Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna e Eduard F.
Johanna F.F
Johanna F.F
Johanna F.F
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Heinrich Eduard F
Heinrich Eduard F
Destinatário
Irmã Marie
Pais
Cunhada Tereza
Sobrinha Emma
Irmão Fritz
Irmão Fritz
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Sobrinha Emma
Pastor Hunsche
Madame Abel
Frederico
Futura Nora
Neto Rudi
Frederico