Autor: Rodolfo Falk
Nasceu a minha avó a 6 de setembro de 1845 em Muenchingen, na Alemanha. Contratou casamento em agosto de 1868, ainda na Alemanha, e veio ao Brasil em janeiro de 1871.
Casou em 31 de janeiro de 1871 em Santa Cruz.
Tinha a minha avó paterna um gênio muito bondoso e afável, aliado a um profundo sentimento religioso.
Nada a poderá caracterizar melhor, do que a carta que dirigiu à minha mãe, então Margarida Blanchart, quando esta lhe comunicou o seu noivado com o meu pai, Dr. Frederico Guilherme Falk.
Data esta carta de Feliz, 11 de janeiro de 1903 e dela traduzo e transcrevo os seguintes trechos:
Minha querida filha!
Recebi a tua cartinha amorosa e muito me alegrei por teres vindo ao meu encontro com tanta confiança.
Agradeço-te por teus atenciosos sentimentos filiais e cumprimento-te também, através desta linhas, como minha querida filha, como já há tempos assim te considero no meu espírito e no meu coração.
-- -- -- Receba, em primeiro lugar, nossa bênção e os nossos mais profundos e cordiais votos de felicidade pelo contrato de casamento com o nosso querido filho Fritz.
Que Deus onipotente vos dê a sua bênção celstial, da abundância de sua riqueza!
Que venham a ser bem, bem felizes e que a alegria e o amor e a fidelidade vos acompanhem cada dia de vossa vida, até o derradeiro dia.
Sim, querida filhinha,o amor deve ser forte e firme para resistir a todas as tempestades e vicissitudes desta vida térrea; mas o amor também adoça todos os pedidos e ele espera tudo, acredita tudo, suporta tudo e nunca termina, quando ele é sincero e verdadeiro, como eu o desejo a ambos, de todo o meu coração.
-- -- -- Tu sempre alegrarás e animarás o teu querido esposo, quando este chegar em casa extenuado de sua prática e de sua profissão; hás de preparar-lhe um lar confortável e alisar-lhe os vincos de preocupações que se mostrarem em sua testa.
Que tu te tornarás uma dona de casa prática, também já observei com grande prazer; porque é de grande valor, para qualquer posição de uma marido, saber que pode contar com uma abnegada auxiliar, em todos os assuntos, do menor ao maior. -- -- --“
Faleceu Johanna Friederike Falk em Feliz, a 3 de agosto de 1906, em conseqüência de uma doença do coração.
Muitos anos antes, em suas cartas, já se queixava que sofria de vez em quando de fortes palpitações, que seguidamente a obrigavam a recorrer a auxílio médico.
Vários noticiários de jornais atestam com eloqüência, como esta bondosa e caritativa senhora era benquista em Santa Catarina da Feliz:
“Os sinos da igreja evangélica devem ter ecoado tristemente através dos vales, quando acompanharam com o seu badalar o último caminho da falecida esposa do pastor.
Sim, foi a última expansão de amor que os sinos lhe puderam dar. Quantas vezes, da janela da casa pastoral, devia ter ela ficado deleitada ao ouvir o soar dos dois sinos – e agora eram os sinos que, em sua homenagem, a acompanhavam pela última vez com o seu tão amado som, a ela que jazia tranquila e em paz em seu ataúde.
Sim – a tristeza invadiu a casa do pastor, com a perda da dona de casa, sempre tão ativa em suas lides domésticas e que sempre tão afavelmente abria a boca para alegrar o visitante com algumas palavras carinhosas.
As mãos – agora estão descansando, a boca – agora está cerrada. O Todo-Poderoso que a criou, agora a admitiu em seu reino celestial.
Com lágrimas deve o pastor ter acompanhado os restos mortais de sua amada esposa, que durante 35 anos compartilhou fielmente das suas horas de alegrua e de amargura.
Com ele pranteiam 9 filhos (4 filhos e 5 filhas) a perda de sua mãe, que deles cuidou com tanto carinho.
Aos sentimentos da família enlutada associou-se, como uma só alma, toda a comunidade, tanto evangélica como católica, reconhecendo com amargura a perda que acabava de sofrer.”
“A 3 de agosto do corrente ano (1906), à 1 hora da tarde, faleceu a sra. Johanna Friederike Falk, nascida Hahl, na picada Feliz, a venerada, sempre fiel companheira de vida do Pastor Eduard Falk.
Já encontrava-se enferma há muito tempo; o seu filho, Dr. Falk de Porto Alegre, usou de todos os meios da ciência médica. Mas a sua hora tinha chegado, como ela mesma já o tinha anunciado com clarividência.
Ainda teve que suportar duas semanas de sofrimentos bastante grandes. Suportou-os com resignação cristã e passou o limiar para o reino eterno, doce e calmamente, com a idade de 60 anos e 11 meses.
– Natural de Muenchingen (Alemanha), onde nasceu a 6 de setembro de 1845, veio para o Rio Grande do Sul no ano de 1871 para desposar o Pastor Eduard Falk.
Tanto para ele como para os 9 filhos do casal, foi ela uma altamente e abnegada e previdente dona de casa e conselheira.
O seu desenlace deixou uma grande lacuna no seio daquela família, o que, durante as exéquias, teve a sua expressão da maneira mais comovente.
– Domingo de manhã, logo depois das 10 horas, reuniu-se defronte da casa pastoral de Feliz um séqüito tão numeroso, como raramente se tem visto.
Uma multidão incalculável, dentro da qual a parte constituída pela população católica nada ficava devendo à parte evangélica, demonstrou que a finada era benquista e apreciada por todos.”
Veradeiramente comovente é a forma como o meu avô Pastor Heinrich Eduard Falk comunicou o falecimento de sua querida companheira de vida à sua sobrinha Emma Hahl, na Alemanha, em carta que lhe dirigiu de Feliz a 10 de novembro de 1906:
“O teu querido pai poderá aquilatar toda a minha dor, já que passou pelo mesmo dissabor. Quantas vezes ouvi contar da minha querida “Mama” – como costumava apelidá-la – como o teu pai teve que lutar contra a sua dor.
Amanhã terão passado 14 dias, desde que levaram a minha cara “Mama” à sepultura – e até hoje ainda não passou um dia sequer, que não me lembrasse com lágrima do seu amor, quando ao anoitecer e ao soar do sino, estou sentado à sua sepultura.
Ai, como a nossa casa ficou abandonada desde que a querida “Mama” nos deixou. Era ela o anjo protetor de suas 3 filhas que todas as noites escutavam com alegria a sua palestra, quando contava dos seus bem-amados na velha pátria e quando ajudava e aconselhava as suas filha nos seus trabalhos.
Como aqui só temos poucas famílias, com as quais as nossas filhas pudessem ter relações, costumava a amada “Mama” ocupá-las aos domingos de tal maneira que sempre preferiam ficar em casa.
Como tive pena da minha querida Maria, quando após o enterro teve que ficar sozinha comigo! Johanna está há seis semanas na cidade, tratando dos seus dentes, ao passo que também eu tive que atender a escola durante as manhãs e ainda viajar a cavalo, de quando em vez, para atender os meus deveres religiosos.
Que alegria para Maria, quando anteontem Johanna aqui chegou a cavalo!......
Quando a nossa mãe ficou tão seriamente doente, logo telegrafei a todos os meus filhos. Helena, Johanna e Hans não receberam os dois telegramas e só chegaram 8 dias depois do enterro, o que muito nos entristeceu. ......
A minha querida “Mama” já estava doente há 1 ano e meio. Era muito severa para consigo, tomava os remédios pontualmente, não comia carne nem pão.
Quase que só se limitava a tomar leite, se bem que muitas vezes a aconselhasse a comer de tudo, já que sempre emagrecia mais.
Mas isto nada adiantou, pois ela continuou com o seu regime.
No último meio ano parecia haver uma pequena melhora, mas todas as 3 semanas se apresentava uma recaída com outras dores internas; mesmo assim, costumava levantar-se novamente depois de 3 dias.
Só uma vez ela nos disse estar convencida de ter que morrer em breve, o que nos causou muitas lágrimas. Tratou logo de nos consolar novamente, com palavras afáveis. Desde então nunca mais falou da morte.
Como ela era a nossa fiel mãe, mandou fazer para mim duas novas fatiotas e novos vestidos para as filhas.
À minha pergunta: “Mama”, como tu estás bem intencionada com o teu velho, que logo lhe mandas fazer duas fatiotas novas!
Respondeu-me: Tenho que tratar do meu velho enquanto ainda estou junto dele. Somente depois de sua morte é que esta resposta se me tornou perfeitamente clara.
A última doença durou 3 semanas. Em princípio ainda teve forças de levantar sozinha. Mas depois de 8 dias as forças diminuíram; falava pouco, nada ordenava.
Só queria beber e levantar-se, no que eu mesmo lhe prestei auxilio dia e noite, de boa vontade.
Quando chegou o nosso Fritz (Dr. F. G. Falk), já o não reconheceu mais, pois tinha perdido a fala. Dava a conhecer os seus desejos com sinais.
Ó, como me dói na alma, que a nossa querida “Mama” não mais nos pode falar – sem despedida, ela adormeceu tranqüilamente e não mais ouviu o nosso choro e o nosso lastimar.
Ela, a querida “Mama”, me foi muito mais do que a companheira de minha vida; amei-a e venerei-a, pois foi a jóia da minha família.
Que Deus a recompense por tudo que fez para mim e para meus filhos!”
Resumirei nas folhas seguintes os dados genealógicos que consegui sobre a
Neste trabalho fui grandemente auxiliado pelo sr. Fritz Hahl, residente em Gern, junto a Eggenfelden (Bavária), Alemanha.
Visitei este senhor que é sobrinho de minha avó, no ano de 1931; e em janeiro de 1933 forneceu-me ele todos os dados de que necessitava para a compilação destes mapas.
De meu pai, Dr. Frederico Falk, tenho ainda os seguintes dados referentes aos irmãos de sua mãe, que o mesmo me forneceu por escrito e cuja tradução deixo a seguir:
Meu avô MICHAEL HAHL foi proprietário rural em Muenchingen, perto de Stuttgart, Alemanha. Mais ou menos no ano de 1853, quando a minha mãe contava 8 anos, mudou-se para Sankt Veit, também na Bavária.
Sankt Veit, naquela época, era uma propriedade rural muito extensa.
O grande edifício que abrangia uma ala para moradias, outra para a administração e ainda uma igreja contígua, era apelidado de castelo.
Minha mãe sempre nos contava do bondoso senhorio que lá residia.
Hoje existe sobre parte desta propriedade (ou bem próximo à mesma) a pequena cidade de Neumarkt que deriva a sua pouca importância da estrada de ferro que por ela passa.
Este meu avô Michael Hahl (1807-1884) deixou os seguintes filhos:
JACOB HAHL (1833-1898) – Proprietário rural e dono de uma cervejaria na Bavária, Alemanha, casado com Berta Huebschmann, teve 13 filhos, entre os quais a sua excelência Albert Hahl, ex-governador da antiga colônia alemã Nova Guiné e depois embaixador-conselheiro no Ministério de Relações Exteriores de Berlim.
O seu irmão mais moço, Hans Joachim, era químico da fábrica Bayer.
KATHARINA HAHL – Era casada com o missionário Boehm, em Walfischbay, África. Tio Boehm eu ainda o encontrei em 1913, com a idade de 82 anos, morando com Fritz Hahl Jr., em Berlim.
Entre os seus filhos encontram-se: Dr. Johannes Boehm (médico oculista) em Heilbronn, Alemanha, e Mary Schaible, Indianópolis, América do Norte, com a qual, nesses últimos anos, mantive alguma correspondência.
MICHAEL HAHL – Faleceu ainda moço e deixou um filho Otto que mora em Stuttgart, Alemanha, e duas filhas, das quais uma, Luise, era casada com o Pastor Karl Schaefer.
Faleceu ela em 1885 em casa dos meus pais em Ferraz, enquanto que o seu marido foi, mais tarde, pastor evangélico em Porto Alegre (1888-1893).
BABETTE HAHL – Casada com Rudolf Bachmann. Este, durante muitos anos, foi sócio do tio Fritz em Gern (cervejaria). Mais tarde tornou-se dono de uma hotel em Munique.
FRITZ HAHL (1843-1916) – Meu padrinho de batismo era proprietário rural e dona de uma cervejaria em Gern, junto a Eggenfelden, Alemanha, que desde Neumarkt (Sankt Veit) pode ser alcançado em uma hora e meia de trem.
Eggenfelden é uma cidadezinha de pouca importância, de onde se chega a Gern após uma caminhada de apenas 15 minutos. Saindo de Eggenfelden, atravessa-se o riozinho Rott e toma-se o caminha da esquerda; em seguida encontra-se uma pequena capela, detrás da qual se acha a sepultura do meu avô Michael Hahl (1807-1884).
Os gigantescos botões de prata do seu casaco dominical, encontram-se em poder de Fritz Hahl Jr., como recordação. Gern possue também o seu castelo.
Um filho do tio Jakob era o seu administrador em 1913. Tio Fritz que em 1913 ainda encontrei vivo, deixou dois filhos Emma e Fritz Jr. O Fritz Jr. eu o visitava freqüentemente em Berlim, onde trabalhava como engenheiro da usina elétrica municipal.
É casado com a filha de um médico e tem agora duas filhas. Consta agora estar trabalhando em uma fábrica de anilinas e produtos químicos em Ludwigshafen, Alemanha.
A sua irmã Emma (muito católica) é casada com um Juiz do Tribunal Superior, Wilhelm Kempfler, e morava durante muito tempo em Passau, Alemanha.
JOHANNA FRIEDERIKE HAHL (1845-1906) – Foi a minha mãe. Casada com o Pastor Heinrich Eduard Falk.
Chegou ao Brasil em janeiro de 1871. Já contratara casamento com o meu pai em agosto de 1868, dias antes deste encetar a sua viagem para cá.
MARIA HAHL – Casado com o proprietário rural Mueller.